UPK - Boletim 04 - Cynolebias cyaneus
A UPK – União Paulista de Killifishes foi o grupo pioneiro de aquaristas e criadores de killifishes em São Paulo, quiçá do Brasil, desde 1984 (segundo dados do primeiro Boletim nº00 de 1989 e como testemunha ocular). Transcrevemos esse quinto boletim com ciência e anuência do Biólogo Júlio Cezar Ghisolfi que é um dos fundadores da UPK.
UPK – Boletim 04 2-8
A PALAVRA DO EDITOR
Em reunião realizada no mês de maio, a diretoria da UPK resolveu me prestigiar, apoiando minhas reivindicações. Decidi então, baseado em tal apoio, extinguir definitivamente todos os cargos eletivos e criar um conselho consultivo permanente o qual será formado pelos fundadores da União, isto com intuito de não permitir que os objetivos iniciais sejam desviados de sua linha mestra. Cargos eletivos sempre são motivo de disputa e desentendimento e para nós, o mais importante é o ideal de sermos considerados sérios naquilo que nos propusemos a fazer. Esperamos enterrar aqui todas as disputas do passado, na certeza que assim os objetivos serão atingidos mais rapidamente.
A partir deste boletim, reservamos um espaço para que nossos membros também possam relatar suas experiências, sejam elas referentes a coletas, reprodução, manutenção ou mesmo um trabalho de pesquisa sobre killies e com isto acreditamos que iremos todos aprender um pouco mais sobre nosso hobby.
Finalmente, por motivos técnicos, somos obrigados a mudar definitivamente a data de publicação de nosso boletim, o qual será distribuído a partir deste número, no dia 15 de cada bimestre. Também não poderíamos deixar de agradecer aos nossos patrocinadores, pessoas que acreditam no que fazemos e que tornaram possível a ampliação do número de páginas deste nosso informativo. Até o próximo número.
Celso A. G. Lopes.
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UPK – Boletim 04 3-8 a 5-8
O KILLI EM DESTAQUE
Cynolebias cyaneus Amato, 1987
A descrição desta espécie foi publicada na “Comunicaciones Zoologicas del Museo de Historia Natural de Montevideo” número 163, vol.XI, sendo de autoria do professor Luis H. Amato. No meio aquarístico brasileiro, foi introduzida em agosto de 1988, pelos aquaristas e pesquisadores Dalton Nielsen, Gilberto C. Brasil e Marco Túlio C. de Lacerda, que a coletaram na localidade tipo e também em outra poça distante 200 km da mesma. atualmente vários integrantes da UPK a reproduzem em seus aquários, pois como veremos adiante, trata-se de peixe muito prolífero. Com a descoberta desta espécie, eleva-se o número de representantes deste gênero no estado de Rio Grande do Sul, onde até então eram conhecidas: C. melanotaenia Regan, 1912, C. wolterstorffi Ahl, 1924 e C. adloffi Ahl, 1922. Também é interessante registrar que o professor Amato recebeu os exemplares para a descrição de professores da PUC do Rio Grande do Sul, os quais haviam sido coletados em 12-09-83.
Os machos apresentam corpo alargado e relativamente baixo, com as nadadeiras dorsal e anal estreitas, porém com área de inserção extensa e geralmente com o mesmo número de raios. O perfil superior e inferior é curvo. Os jovens apresentam o corpo com uma coloração cinza esverdeado, sendo as nadadeira ímpares de um azul metálico intenso; quando adultos o corpo adquire coloração predominantemente azul escuro com estreitas faixas acastanhadas e pontos azuis iridescentes formando barras verticais. O mesmo ocorre a nível das nadadeiras. Também é característica uma faixa negra que atravessa as regiões sub e supraocular verticalmente. Deve-se ressaltar que esta coloração é típica de exemplares bem adaptados ao meio, uma vez submetidos a stress esta torna-se esmaecida. A origem de seu nome é devida a estas características (do latim cyaneus = azul).
As fêmeas, via de regra, são menores e com corpo mais baixo e mais largo, apresentam coloração cinza esverdeada com pontilhado negro difuso, também é notada a faixa negra vertical nas regiões sub e supra ocular. As nadadeiras são transparentes sendo que a nível da dorsal e anal notamos o mesmo pontilhado do corpo, principalmente nas bases.
A manutenção em cativeiro é relativamente fácil, não se trata de peixe exigente quanto a condições de água, apenas não tolera temperaturas elevadas. A água deve ser mole, pH entre 6,6 e 7,0 e temperatura entre 18 e 22ºC. Os machos mostram-se menos agressivos em relação às fêmeas do que em outras espécies do gênero, porém mesmo assim aconselho a utilização de grande quantidade de plantas com a finalidade de assegurar refúgio para a fêmea. Não utilizo aquecedores mesmo no inverno, como não me sirvo de aeradores nos aquários de reprodução. Os exemplares selvagens apresentarem grande longevidade, vivendo em meus aquários por mais de um ano e oito meses.
Para reprodução utilizo aquários com as seguintes medidas: 15 x 30 x 20, sendo que só aproveito a metade do volume com água. Para substrato, pessoalmente utilizo turfa, porém pode ser empregado pó de xaxim ou esfagno, com resultados também satisfatórios. A altura do substrato deve ser de no mínimo 3 cm, uma vez que para desovarem, se enterram completamente no solo; a água deve apresentar as características citadas anteriormente, e quinzenalmente devemos trocar 1/3 do volume total, nesta ocasião retiro o substrato com os ovos, passando os reprodutores para outro aquário idêntico e previamente montado, por não dispor de muito espaço não faço o recomendado “repouso” da fêmea, deixando-a juntamente com o macho em ato contínuo. A turfa retirada é então filtrada através de um pano (coador de café) e exprimida firmemente a fim de retirar o excesso de água; em seguida é depositada entre folhas de jornal para se conseguir a umidade ideal (fumo de cachimbo), o tempo em que a mesma permanece entre as folhas é extremamente variável pois depende de uma série de fatores externos como por exemplo temperatura, grau de umidade local, etc. Uma vez atingida a umidade ideal, a turfa é colocada em sacos plásticos, os quais são inflados com ar atmosférico, etiquetados e depositados em uma caixa de isopor. Mensalmente devemos observar os ovos, os quais são grandes, aproximadamente 0,15cm, pois não existe tempo certo e fixo para o desenvolvimento do embrião em condições não naturais, isto sempre que citado deve ser interpretado como média e não como regra, uma vez que muitos fatores exercem influência no desenvolvimento embrionário, tais como temperatura, umidade, teor de oxigênio, etc. Caso os ovos já apresentem desenvolvimento completo,o que pode ser visualizado através da transparência do córion, devemos colocá-los em água ácida, mole e desclorificada, com uma altura máxima de 1,5cm, dentro de 24 horas, observaremos os alevinos nadando, estes devem ser alimentados logo após o nascimento com microverme ou náuplios de Artemia salina. Devemos alimentá-los pelo menos 1 vez ao dia e elevarmos o nível d’água em aproximadamente 1cm ao dia, operação esta que deve ser o mais lenta possível, também adiciono caramujos (Physa sp), com intuito destes removerem os restos da alimentação, para auxiliar a manutenção das condições químicas da água plantas do gênero Ceratopteris são utilizadas. Tão logo a altura permita, passo a utilizar filtros de espuma. O desenvolvimento dos alevinos é rápido e com 4 meses já estão sexados. Trocas semanais de 1/3 do volume são necessárias nesta fase. Durante esta fase de crescimento utilizo como alimento, além dos já citados, enquitréias, tubifex picado e larvas de mosquito. Na minha experiência não aceitam alimentos secos, porém carne moída, raspas de fígado ou coração bovino são disputados vorazmente. A proporção macho/fêmea é equilibrada, como também raros são os alevinos arrastadores. O tempo médio de incubação é de 3 meses.
Celso A. G. Lopes.
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